O QUE É A CIBERCULTURA?
Para
o autor Pierre Lévy (1999), cibercultura é um padrão de comportamentos, estilos
de vidas e ideias influenciados pela tecnologia da informática e mediados pela
comunicação em rede via internet. Com a ascensão do ciberespaço e,
consequentemente, o desenvolvimento da cibercultura, o virtual tornou-se cada
vez mais presente na vida das pessoas, através de e-mails, sites de notícias,
comunidades virtuais, plataformas de aprendizagem e transações comerciais. Essas
novas possibilidades do mundo online permearam e moldaram o comportamento das
pessoas dentro e fora do virtual.
1) O
fenômeno das FakeNews
O
ciberespaço deu a comunicação a possibilidade de romper com o fechamento
semântico exigido obrigatoriamente pela descontextualização das mensagens e
ofereceu o acesso ao contexto em tempo real, através da interatividade e da
interconectividade. Antes o acesso a mensagem era franqueado por instituições
que dispunham do monopólio da descontextualização (igreja, universidade,
veículos de comunicação de massa etc). Hoje, através do ciberespaço e de suas
ferramentas, podemos ter acesso ao contexto e construir nossa própria mensagem.
Assim,
o ciberespaço apoia a pós-modernidade ao oferecer uma multiplicidade e um
entrelaçamento de pontos de vista.
Entretanto,
essa nova pluralidade de visões possibilitada pela rede, dá visibilidade,
também, a ideias preconceituosas, racistas e não alinhadas a realidade dos
fatos. Pode-se observar de forma clara esse panorama com o fenômeno das fake
News.
Fake News são informações falsas veiculadas através da rede mundial de computadores em plataformas públicas ou privadas. Essas notícias podem ser criadas por um particular ou uma empresa com o foco de denegrir a imagem de alguém ou legitimar uma ideia ou fato que não encontra amparo legal ou científico. O principal objetivo de uma fake News é ser divulgada o máximo possível para que, em decorrência da repetição, àquela informação passe a ser considerada verdade por um grupo de pessoas.
Apesar
de a cibercultura e de sua universalidade terem dado aos indivíduos um direito
quase natural de acesso ao mundo virtual e de criarem sua própria narrativa,
independente de um veículo de imprensa, esse direito, por si só, não garante
inserção real e segura do sujeito no ciberespaço.
Para
o indivíduo conseguir “navegar” de forma salutar pelo mundo virtual e extrair o
melhor desse ambiente torna-se imprescindível a educação digital. Esse
direito reafirma uma das universalidades do ciberespaço, o acesso a todos a
rede de forma igualitária.
2) Internet da Coisas
Para
Pierre Lévy (1999), a interconexão é um dos princípios que norteiam o ciberespaço,
juntamente com a criação das comunidades virtuais e a inteligência coletiva.
A
interconexão traduz-se na conexão e na comunicação dos dispositivos ligados à
rede, seja essa pública (internet) ou privada (intranet). O cerne desse
conceito encontra-se na comunicação, pois na cibercultura “a conexão é sempre
preferível ao isolamento” (p.127).
Segundo
o autor, o ápice da interconexão encontrar-se-ia na comunicação universal, onde
cada dispositivo, objetos e artefatos do dia-a-dia (carros, lâmpadas,
celulares, computadores, microondas, chuveiro etc) estariam conectado à rede
através de um endereço IP.
Segundo
Pierre, “o menor dos artefatos poderá receber informações de todos os outros e
responder a eles, de preferência sem fio. Junto ao crescimento das taxas de transmissão,
a tendência à interconexão provoca uma mutação na física da comunicação: passamos
das noções de canal e de rede a uma sensação de espaço envolvente”. (p. 127)
Essa
conexão iniciou-se a partir da década de 70, com a comercialização dos
primeiros computadores domésticos, e atingiu seu ápice no final dos anos 80 e
início dos anos 90, com o aumento dos adeptos à internet. Nessa época, apenas leptops
e desktops estavam ligados a rede. Hoje, já contamos com celulares,
computadores, tablets, relógios e uma série de outros objetivos online, é a internet
das coisas. Segundo a Internet Society, essa é a “a extensão da
conectividade de rede e capacidade de computação para objetos, dispositivos,
sensores e outros artefactos que normalmente não são considerados computadores”.
Como previsto por Lévy em 1999, a evolução da tecnologia e o consequente
aumento da interconectividade apontam para uma civilização de telepresença
generalizada.
3) MOOCs (Massive Open Online Courses)
Para
Pierre Lévy, um dos grandes desafios da cibercultura no plano da educação é a mudança
do paradigma de ensino institucionalizado e formal para um aprendizado orgânico,
não monopolizado pelas instituições oficiais de ensino. No novo contexto,
haveria “uma situação de troca generalizada dos saberes, o ensino da sociedade
por ela mesma, de reconhecimento autogerenciado, móvel e contextual das competências”
(LÉVY, 1999, p.172).
Nessa
nova proposta de ensino-aprendizagem mediada pelo ciberespaço, se destacam os Massive
Open Online Courses. Nos cursos tradicionais a distância normalmente o acesso
ao conhecimento é realizado por um professor ou tutor, esses norteiam o
aprendizado, tiram dúvidas, oferecem soluções técnicas e fazem a mediação entre
instituição de ensino e aluno. Já nos MOOCs a estrutura é mais fluída e menos
burocrática, os cursos são desenhados para que o aprendiz explore os conteúdos
de forma totalmente autônoma, podendo, em alguns casos, escolher os módulos de
ensino que estão mais próximos a suas necessidades de aprendizado, não
necessitando completar um programa único para a certificação. Os MOOCs permitem
o acesso de milhares de pessoas simultaneamente, sendo totalmente abertos.
Várias organizações oferecem MOOCs, dentre as mais conhecidas estão: Havard,
Universidad Autónoma de Barcelona, Sorbone, USP, MIT etc.
Essa
nova proposta de aprendizagem introduzida pelos MOOCs se opõe aos cursos
tradicionais e vai ao encontro do novo paradigma de navegação, onde o
acesso aos saberes se desenvolve de modo massificado e, ao mesmo tempo,
personalizado (LÉVY, 1999). Além disso, os MOOCs ainda contribuem para o
desenvolvimento da inteligência coletiva, pois otimiza o acesso ao conhecimento
e gera sinergia entre as competências intelectuais, independente de uma
vinculação formal a uma organização de ensino.
Bibliografia:
https://www.ufrgs.br/bibpsico/2018/02/o-que-sao-moocs-massive-open-online-courses/
http://www4.pucsp.br/pos/tidd/teccogs/resenhas/2010/edicao_3/3-cibercultura-pierre_levy.pdf
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832000000100015
https://www.wattson.pt/2018/03/09/o-que-e-a-internet-das-coisas-iot-internet-of-things/
LÉVY,
Pierre. Cibercultura. 1ª. ed. São Paulo, SP: Editora 34, 1999.
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