Autenticidade e a Identidade Virtual

 

A popularização da internet e a evolução das tecnologias da informação e comunicação levaram a uma virtualização das rotinas e das práticas dos indivíduos, incluindo as relações interpessoais. Tarefas antes realizadas “face a face”, como ir ao supermercado, ao banco, ao cinema e às compras, hoje podem ser feitas totalmente ou parcialmente através da internet.

Relações interpessoais antes mediadas por ambientes presenciais (escolas, academias, grupos de leitura, reuniões familiares) foram transportadas para o ciberespaço através  de ferramentas que possibilitam interações através da dispositivos eletrônicos (videochamadas, chats, e-mails, redes sociais etc). Para Castells, “estão emergindo online novas formas de sociabilidade e novas formas de vida urbana, adaptadas ao nosso novo meio ambiente tecnológico” (2003, p. 443).

Mas, diante da ascensão do ciberespaço e das ciber relações, como essa nova forma de se relacionar, mediada por tecnologias, impacta a formação da identidade do indivíduo? Podemos falar em uma identidade virtual?

Para Erickson (1960), a identidade do indivíduo é “sentimento subjetivo e tônico de uma unidade pessoal e de uma continuidade temporal”. Assim, a identidade se constitui em um contínuo processo dialógico entre o ser individual e o ser social. E diante das múltiplas funções sociais a que submete o indivíduo (profissional, fraternal, familiar, etc) e das diferentes exigências feitas por cada grupo social, o sujeito pode desenvolver diferentes personas a fim de se adaptar ao mundo das relações sócioculturais, surgindo uma identidade plural.

"A concepção de identidade hoje passa pela análise do caráter de movimento, revelado pela desarticulação de identidades de antes e das articulações das atuais identidades levando por consequência à criação de um novo sujeito. É comum as pessoas manterem seus E-mails “oficiais” para as comunicações profissionais e sociais e outros endereços alternativos para seus contatos anônimos através de pseudônimos em outros provedores e de nicknames nas salas de chat." (TONG, 2002)

Assim, diante dessa nova forma de se relacionar, criam-se identidades que procuram se adequar e interagir no ciberespaço, semelhantemente ao que ocorre nos jogos de simulação. Até mesmo quando se mantém um “perfil real” na rede, sem pseudônimos, a cultura da simulação mostra-se presente através de representações glamourizadas de elementos do dia a dia, tais como viagens, comidas, trabalho etc.  Podemos citar como exemplo o fenômeno dos Chinese Boys, onde admira-se as imitações perfeitas realizadas pelos garotos chineses e omite-se suas reais identidades, aspirações e realidades.

A possibilidade dada pelo ciberespaço de representar-se pelo anonimato ou de deixar transparecer nas redes apenas o que se quer deu ao indivíduo maior domínio sobre a própria imagem (MALVEIRA, 2011). Nas redes sociais o indivíduo tem a possibilidade de criar uma persona focada nas suas qualidades, nos seus saberes e no melhor que pode apresentar ao mundo, uma verdadeira identidade virtual.

Agora, o sujeito que antes era apenas um expectador do real e da invenção midiática, passa a ver a si mesmo na mídia de massa. O indivíduo torna-se parte fundamental do espetáculo, descobrindo-se como simulador de si, distanciando-se do real para dar espaço ao hiper-real (BAUDRILLARD, 1991).


Bibliografia:

BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio d‟Água, 1991.

LEVY, Pierre. Cibercultura. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1997.

MALVEIRA, Ariel Cardeal. A espetacularização da identidade virtual nas redes sociais. XII Congresso Brasileiro de Ciências da Computação. Londrina, Paraná. 2011. Acessado em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sul2011/resumos/R25-0670-1.pdf

VIRILIO, Paul. A Inércia Polar. Lisboa: Dom Quixote, 1993.

TONG, Paulo. Identidade e privacidade no mundo virtual.  Simpósio de Pesquisa em Comunicação da Região Sudeste.Identidade e Privacidade no Mundo Virtual. 2002. (Simpósio). Acessado em: http://www.intercom.org.br/papers/sipec/ix/trab04.htm

 

 

 

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